terça-feira, 16 de outubro de 2018

O tempo dos senhores de sempre

É chegado o tempo das palavras ditas
os senhores de sempre pedem seu camarote para mais um giro da história.
Que alívio! Já nem é preciso fingir que suporto o primo bicha, a preta vereadora e essas mocinhas atrevidas a dizer incongruências.
Por favor, lavem as ruas depois do massacre. Não quero saber que sujei as mãos.

É chegado de novo o tempo dos ódios rasgados
e sabíamos que viria porque nada é mais pontual
que a raiva de quem tem tudo.

Mas não nos culpemos tanto se nos distraímos
a esperança de outros jeitos é mesmo matéria nossa.

É chegado o tempo
e nada a fazer,
exceto tudo.

Enfrentar as palavras até que façam sentido
Enfrentar os sentidos até que não se percam em palavras

Acreditar, acreditar, até esgarçar o tecido do sonho.
Cozer com os fios desconexos do possível.
Esses fiapos embolados e tenazes do abraço cotidiano
e da mão dada que nem vejo de onde.
A trama da utopia é persistente:
cede, mas não se desfaz.