quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Tecidos diários

para Leila, João e Thereza


Para a frágil tecitura do dia 
escolho o bordado tanto pela cor
quanto pela candura. 

É que ser flor, nessa ruidosa apatia,
é, sobretudo,
uma forma de luta. 

Roubo da renda a força tesa
de não se render ao ferro que assusta,
enquanto o cetim me ensina a leveza 
de moldar-se e ainda seguir em disputa. 
O caimento do brim, em sua maciez consistente
ajuda a ser firme e não perder a ternura, 
mas é sem a chita que eu não saberia 
o movimento amplo das flores em rebeldia. 

Trajar-me em cotidiana poesia 
é meu escudo-espada contra a rotina-espartilho, 
infeliz e armada. 
Por isso quando à noite me dispo
dos tecidos e das rimas em camada
deixo em molho de sonhos o vestido 
para o luar quarar minha onírica empreitada.

Rio, 02 de novembro de 2015