para Leila, João e Thereza
Para a frágil tecitura do dia
escolho o bordado tanto pela cor
quanto pela candura.
É que ser flor, nessa ruidosa apatia,
é, sobretudo,
uma forma de luta.
Roubo da renda a força tesa
de não se render ao ferro que assusta,
enquanto o cetim me ensina a leveza
de moldar-se e ainda seguir em disputa.
O caimento do brim, em sua maciez consistente
ajuda a ser firme e não perder a ternura,
mas é sem a chita que eu não saberia
o movimento amplo das flores em rebeldia.
Trajar-me em cotidiana poesia
é meu escudo-espada contra a rotina-espartilho,
infeliz e armada.
Por isso quando à noite me dispo
dos tecidos e das rimas em camada
deixo em molho de sonhos o vestido
para o luar quarar minha onírica empreitada.
Rio, 02 de novembro de 2015
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