Amigos vieram
me perguntar, afinal, o porquê de tudo agora precisar de adjetivos. Tudo que eles
tinham sido por uma vida inteira, sem nenhum problema, sem nenhuma questão,
agora precisava de uma identificação? É recurso estilístico? É só encheção?
Ah, suspiro
quase rindo, se os adjetivos fossem só de agora, era outra discussão.
Mas tudo que escapava
a um específico padrão sempre teve seu nome bem definido. Para haver um “neutro”
sempre houve um curiosamente populoso contingente da “exceção”.
Ou agora negro
não é adjetivo, só porque é estranho ser chamado de brancão? Incomoda ouvir “tenho
até um amigo hétero” para quem sempre disse gay e sapatão? Precisa especificar que é trans ou travesti,
mas ter que sempre lembrar que eu sou cis, aí já é apelação?
(sem falar
nesse tal de “ser mulher”, que a gente fica tentando a beça entender o que é,
mas perguntar o que é “ser homem”, isso é universal, precisa não)
Só por terem
colocado esse problema, preciso dizer que eram amigos-homens-cis-brancos-héteros?
Só o sujeito
universal se espanta tanto com essa tal adjetivação.
Nós, os relativos de toda sorte, temos uns bons séculos de prática.
Só que agora também aprendemos a adjetivar. E a ressignificar.
Eu sei, sujeito universal, incomoda.
Mas você vai se acostumar.
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