sexta-feira, 17 de abril de 2015

“Mas para que tanto adjetivo?” – pergunta, confuso, o sujeito universal

Amigos vieram me perguntar, afinal, o porquê de tudo agora precisar de adjetivos. Tudo que eles tinham sido por uma vida inteira, sem nenhum problema, sem nenhuma questão, agora precisava de uma identificação? É recurso estilístico? É só encheção?

Ah, suspiro quase rindo, se os adjetivos fossem só de agora, era outra discussão.

Mas tudo que escapava a um específico padrão sempre teve seu nome bem definido. Para haver um “neutro” sempre houve um curiosamente populoso contingente da “exceção”.

Ou agora negro não é adjetivo, só porque é estranho ser chamado de brancão? Incomoda ouvir “tenho até um amigo hétero” para quem sempre disse gay e sapatão?  Precisa especificar que é trans ou travesti, mas ter que sempre lembrar que eu sou cis, aí já é apelação?

(sem falar nesse tal de “ser mulher”, que a gente fica tentando a beça entender o que é, mas perguntar o que é “ser homem”, isso é universal, precisa não)

Só por terem colocado esse problema, preciso dizer que eram amigos-homens-cis-brancos-héteros?

Só o sujeito universal se espanta tanto com essa tal adjetivação.

Nós, os relativos de toda sorte, temos uns bons séculos de prática.

Só que agora também aprendemos a adjetivar. E a ressignificar.  

Eu sei, sujeito universal, incomoda.

Mas você vai se acostumar.


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